sábado, 23 de novembro de 2019

Marcas que deixamos nas janelas. [E mudanças. E o que somos hoje].



Eu tenho o costume porco de não limpar janelas... Hoje, este que vos escreve, nesse relato que tem sido o blog, conta que nesse momento estou de partida de uma casa que tem essa janela na foto. 

Como podem observar caso queiram, ela está imunda, façamos as contas, estou aqui a 5 anos. Me lembro de lavar essa janela com a consciência de que sou uma louca paranoica algumas vezes, mas nenhuma delas foi a ponto de arriscar a minha vida lavando uma janela. [Você já me ouviu falar que eu sou uma louca paranoica nesse quarto?]. Então em minha defesa, ela estava quase sempre fechada. Eu abria geralmente quando recebia pessoas aqui, não foram muitas, mas algumas foram de fato importantes. Hoje olhando para a janela, com todos os moveis desmontados e tudo dentro de caixas, penso uma pouco no tanto de marcas que deixaram na minha “janela”. O tanto de vezes que falei nesse santuário que chamo de quarto. Quantas vezes me confessei nas paredes mais seguras do meu lar. Acompanhado algumas vezes de pessoas que pareciam se importar, a ponto de que eu as convidasse para retornar. Algumas confesso foram apenas pessoas, passando por um lugar muito importante pra mim. E que espero ter a qualquer uma das pessoas que partilharam esse quarto, dentro de todas as relações que eu construí, mostrar que, esse é um lugar importante pra mim. Me lembro de namorar inclusive quando cheguei a essa casa. Hoje não lembro nem como eu era. Mas vejo que tenho marcas na janela. E penso [porque acho que hoje sou mais assim.] em todas as pessoas que estiveram aqui. [a cada marca que você pode ter deixado na minha janela]. Eu penso em muitas pessoas. Mas todas essas pessoas que eu penso, sabem que muitas pessoas passaram por aqui.
A casa assim como eu, está sempre aberta aos amigos. E também aos amigos dos amigos. 

Assim como eu a casa recebia, outras moradas dentro de si mesma. E entendia que esse lugar deveria ser importante também para quem estivesse aqui. Não chamo de esforço essa vontade de quem vem aqui se sinta tão a vontade quanto eu. Porque de verdade. Se pensarmos no quarto como o lugar mais seguro da nossa existência onde a gente se sente a vontade pra deixar todo o dia e tudo que aconteceu nele pra relaxarmos. Nos sentindo seguros. Eu confesso que me comparo ao quarto. Pense que você que está lendo pode partilhar um momento que pode estar dentro da minha cabeça a ponto de eu lembrar de você, porque foi significativo pra mim, ou pra você. A ponto de hoje termos construído uma morada chamada amizade. A ponto de hoje olhar pra janela e pensar que você pode ter deixado uma marca nela. [e no que pode significar pra mim a frase “deixar uma marca na minha janela”.]. Pense que independente de onde eu more, o quarto tem muitos significados. Porque o importante não são as paredes que nos cercam. São todas as lembranças que serviram de aprendizado para construir o que sou hoje.

Levamos caros leitores todas as nossas experiências conosco. A cada dia que dormimos, acordamos outros. A cada momento da vida temos células morrendo e células sendo produzidas. A cada tempo que quisermos chamar de “presente” estamos morrendo um pouco e renascendo ao mesmo tempo. Mudamos a cada instante único. E a vida é a resultado de todo momento tempo que definimos que acabou, um passado. Pra falarmos um pouco no não existente futuro. Temos quase sempre a boa esperança de que as coisas não mudem, quando estão boas. Mas aprendemos com o tempo que não prestamos muita atenção no presente. Mas tornamos algumas coisas importantes, a ponto de compartilharmos. Enquanto mudamos, tudo que dividirmos, afeto ou conhecimento, mesmo que seja o presente forma aquilo que somos. E tentamos até prever o que seremos, mas o fato é que toda vez que nos sentimos seguros dentro do nosso quarto, dormimos e acordamos outros. Morremos e levamos nossas experiencias conosco esperando que as coisas boas continuem todos os dias.

Tive muitas mudanças dentro desse quarto, sozinho ou acompanhado, compartilhei muito de mim aos visitantes que tive. Espero ter feito aquele momento que tivemos nesse quarto importante, ou espero ter feito desse momento tão importante pra mim a ponto de relatar no blog. [Aqui eu meio que transbordo minhas mudanças, pra poder pensar melhor nelas depois. E meio que conecta algumas pessoas que eu gosto muito.].

Penso um pouco no quanto eu mudei e aprendi olhando pra janela do meu quarto hoje, penso em pessoas, penso em músicas, penso em garrafas que esvaziam, em cafés que esfriam e cigarros apagando. Penso que fiz desse quarto um refúgio pra mim e para aqueles que compartilhei desse espaço. Tento pensar com carinho em todos vocês, por que se tem algo que aprendi nesses anos que moro aqui nessa casa é que devemos todos pensar com mais carinho nos momentos que tivemos, nas pessoas que conhecemos, nas relações que construímos e naquelas que só fazem parte daquilo que você é hoje. Sei lá se devo falar em amor, mas se tem uma marca que deixaram na minha janela é que devemos nos tratar com mais carinho. Pra transformar a vida num lar. Que independente do fim ou do tempo ainda possa ser uma lembrança que você possa pensar com carinho. Hoje paro um pouquinho pra pensar no que vou deixar nessa casa, mas me alegro muito no que aprendi e naquilo que quero manter, pra criar novas lembranças no meu novo lar, pra criar novas mudanças no meu novo lar. Porque ai talvez eu seja a louca paranoica que olha pra porra da janela imunda do quarto e pensa em pessoas muito importantes que pareciam se importar. Ai eu vejo que hoje eu tenho mais carinho por essa pessoa que sou e espero que você que tenha deixado uma marca nessa janela também possa compartilhar dessa mudança. E espero que possa pensar em você mesmo com mais carinho. Espero me tornar cada vez mais a pessoa que acha fofa uma janela suja. E espero criar mais marcas em janelas.

Basileia 509
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